sábado, 14 de janeiro de 2012

PROIBIÇÃO DE ANTIBIÓTICOS NA CRIAÇÃO ANIMAL É TEMA EM DEBATE NA ALEMANHA



Políticos alemães buscam uma solução para restringir uso de antibióticos na criação industrial de animais. De um lado, está a defesa da saúde e do consumidor, do outro, os interesses da indústria.


A criação em grande escala de animais na Alemanha e em outros países da União Europeia (UE) pouco tem a ver com um idílio rural. Galinhas, perus, suínos e bovinos vivem amontoados em espaços reduzidos. A tendência são unidades de produção cada vez maiores, fazendas com mais de 100 mil galinhas e milhares de porcos não são raridade. Os animais são preparados para o abate num espaço curto de tempo e da forma mais econômica possível.
Um frango vive em média 32 dias, um porco está pronto para o abate aos quatro meses de idade. Os produtores que não conseguem acompanhar esse sistema de engorda são os perdedores na competição feroz pela carne barata.
Criação industrial de animais só é possível com antibióticos
A carne barata produzida industrialmente tem, todavia, efeitos colaterais. Os animais não são criados de forma adequada e, devido à convivência apertada em grandes grupos, sem a aplicação de antibióticos eles ficam doentes. É muito perigosa a transmissão de uma infecção de um único animal para todo o grupo. Para evitar isso, acrescenta-se antibiótico à ração.


Segundo dados do governo alemão, os frangos recebem antibióticos, em média, 2,3 vezes durante sua curta vida. No caso dos porcos, a média é de 5,3 vezes.




Perigo mortal
Na medicina humana e veterinária, antibióticos devem ser usados com moderação e apenas de forma direcionada para o tratamento de doenças. Mas o uso indiscriminado na engorda de animais tem consequências de longo alcance. Nos locais de criação, desenvolvem-se novos germes resistentes a antibióticos.
Tais antibióticos, que também são usados na medicina humana, não mais ajudam no combate a essas bactérias, o que torna os remédios ineficazes. Por exemplo, caso um germe atinja uma ferida aberta e cause uma infecção, o desenvolvimento dessa infecção poderá ser mortal.
De acordo com Marc Spencer, chefe do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, 25 mil pessoas morrem a cada ano na União Europeia devido a infecções que não podem mais ser combatidas com antibióticos.
Médicos e ativistas da defesa do consumidor alertam há muito tempo e advertem dos perigos inerentes à utilização de antibióticos na engorda de animais. Em um estudo, a Liga Alemã para Proteção à Natureza e ao Meio Ambiente apontou que já agora mais da metade dos produtos com carne de frango comprados aleatoriamente em supermercados alemães contêm germes resistentes a antibióticos.
Por outro lado, Thomas Janning, da Federação Alemã de Criadores de Aves, adverte contra o pânico. "A mera presença de bactérias resistentes a antibióticos em carne de aves não quer dizer absolutamente nada sobre os riscos de saúde para os consumidores", disse.
Como se proteger?
O consumidor não tem condições de reconhecer se a carne está contaminada com bactérias resistentes a antibióticos. Por esse motivo, Armin Valet, da Central de Proteção ao Consumidor de Hamburgo, recomenda higiene rigorosa na cozinha. A carne deve ser aquecida por 10 minutos a mais de 70°C, para que os germes morram, recomenda.
Além disso, as entidades de defesa do consumidor aconselham, por exemplo, que carne e alface não sejam manuseadas sobre a mesma tábua de cozinha, evitando assim uma possível contaminação.
Na opinião de Valet, quem quiser evitar germes resistentes, deve antes comprar carne orgânica ou de animais criados em condições adequadas. Aqui, os antibióticos são usados apenas em casos excepcionais para o tratamento específico de animais. Estudos demonstram, diz o professor Wolfgang Witte, microbiologista do Instituto Robert Koch, que a carne desses animais não está contaminada com bactérias resistentes.
Luta política por interesses
Médicos, ativistas da defesa do consumidor e do meio ambiente pedem que se repense a forma como os animais são criados. "A conclusão só pode ser uma: criar e engordar os animais de forma que a utilização de antibióticos seja proibida desde o início", defende Witte. A aplicação dessa exigência traz consigo, todavia, consequências de longo alcance.
A criação não pode se realizar com milhares de animais num mesmo local e os animais precisariam de muito mais espaço. Os lobistas das indústrias agrícola e da carne se defendem, dizendo que, dessa forma, a produção em massa de baixo custo não será mais possível.
Os políticos alemães buscam uma solução. De um lado, está a defesa da saúde e do consumidor; de outro, os interesses das indústrias agrícola e da carne, orientadas para a exportação. Por enquanto, tenta-se reduzir a utilização de antibióticos na criação industrial de animais através de leis e controles mais severos. Mesmo assim, não deverá ocorrer, nos próximos anos, uma proibição do uso intensivo de antibióticos na criação de animais.
Autor: Gero Rueter (ca)

Fonte:  Deutsche Welle




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