Os poemas têm a função específica: de emocionar, de transmitir a realidade, de persuadir ou simplesmente de estabelecer um contato maior com o receptor, a poesia é a expressão da alma, seus sentimentos, desejos e objetivos, Alexandre Pimentel no Poema Gaúcho Vegetariano - Boi Velho, nos transmite a realidade através da pura emoção.
"...O boi velho sentindo-se ferido, doendo o talho, quem sabe se entendeu que aquilo seria um castigo, algum pregaço de picana, mal dado, por não estar ainda arrumado... - pois vancê creia! - soprando o sangue em borbotões, já meio roncando na respiração, meio cambaleando, o boi velho deu uns passos mais, encostou o corpo ao comprido no cabeçalho do carretão, e meteu a cabeça, certinho, no lugar da canga, entre os dois canzis... e ficou arrumado, esperando que o peão fechasse a brocha e lhe passasse a regeira na orelha branca...
E ajoelhou... e caiu... e morreu...
Os cuscos pegaram a lamber o sangue, por cima dos capins... um alçou a perna e verteu em cima... e enquanto o peão chairava a faca para carnear, um gurizinho, gardote, claro de cabelos cacheados, que estava comendo uma munhata, chegou-se para o boi morto e meteu-lhe a fatia na boca, batia-lhe na aspa e dizia-lhe na sua língua de trapos:
-Tome, tabiúna! No té... Nô fá bila, tabiúna!...
E ria-se o inocente para os grandes que estavam por ali, calados, os diabos, cá pra mim, com remorsos por aquela judiaria com o boi velho, que havia carregado a todos, tantas vezes, para a alegria do banho e das guabirobas, dos araçás, das pitangas, dos guabijus!...
- Veja vancê, que desgraçados; tão ricos... e por um mixe couro do boi velho!...
Cuê-pucha!... é mesmo bicho mau o homem!"
Contos Gauchescos e Lendas do Sul
Editora Globo - Porto Alegre - 1973
Alexandre Pimentel - Poema Gaúcho Vegetariano - Boi Velho
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