terça-feira, 20 de dezembro de 2011

VEGETARIANOS FAMOSOS 06 - FRANZ KAFKA


                                Franz Kafka (Praga, 3 de julho de 1883 - Klosterneuburg, 3 de junho de 1924) foi um dos maiores escritores de ficção da língua alemã do século XX. Kafka nasceu numa família de classe média judia em Praga, Áustria-Hungria (atual República Checa). O corpo de obras suas escritas— a maioria incompleta e publicadas postumamente - destaca-se entre as mais influentes da literatura ocidental.
                        Seu estilo literário presente em obras como a novela A Metamorfose (1915) e romances incluindo O Processo (1925) e O Castelo (1926) retrata indivíduos preocupados em um pesadelo de um mundo impessoal e burocrático.

                       Foi outro fervoroso adepto do vegetarianismo. Em seus diários, relata a experiência que teve, certa vez, em um aquário em Berlim. Observando um peixe através do vidro, pensou:

            Agora posso te olhar em paz, pois já não mais te devoro.

                        A relação homem-animal (que, para Kafka, deveria ser de profundo respeito, razão esta do seu vegetarianismo) aparece em outros textos seus.

                           Um exemplo particularmente interessante é o conto “Relato a uma Academia”, sobre um macaco educado, Pedro Rubro, que comparece diante dos membros de uma academia para contar a história de sua vida, de sua ascensão de fera a algo próximo do homem. Com a figura de um macaco falante, de gravata-borboleta, smoking e com o bloco de notas da palestra em punho, Kafka derruba a auto-proclamada fronteira que o homem estabelece entre si e as demais espécies de animais.

                    Ao final de sua narrativa, o macaco Pedro Rubro, já perfeitamente humanizado e educado, reflete sobre a sua transformação e sobre o que ganhou com ela. Sua constatação é pouco alentadora para a espécie homo sapiens. Ao conquistar tudo que julgamos relevante (conforto, reconhecimento, vida social agitada, um relacionamento conjugal), Pedro parece encarar tudo com um grande vazio – a vida humana em nada é mais valiosa do que a sua prévia vida simiesca:

                     Se com uma vista de olhos examino toda minha evolução e o que foi seu objetivo até agora, nem me lamento dela, nem me dou por satisfeito. Com as mãos nos bolsos da calça, com a garrafa de vinho sobre a mesa, recostado ou sentado a meias na cadeira de balanço, olho pela janela. Se chegam visitas, recebo-as como se deve. Meu empresário está sentado na antecâmara: se toco a campainha, acode e escuta o que tenho a dizer-lhe. De noite quase sempre há função e obtenho êxitos já mal superáveis. E se ao sair dos banquetes, das sociedades científicas ou das gratas reuniões entre amigos, chego à casa a horas avançadas da noite, ali me espera uma pequena e semiamestrada chimpanzé, com quem, à maneira simiesca, passo muito bem. De dia não quero vê-la, pois tem no olhar essa loucura do animal perturbado pelo amestramento; isso unicamente eu o percebo, e não posso suportá-lo.





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