A prisão de um ativista holandês no Japão voltou a mostrar a reticência deste país em ouvir as reclamações internacionais para limitar a caça de baleias e golfinhos. Por Suvendrini Kakuchi, da IPS.Artigo |6 Março, 2012 – 18:40A caça à baleia no Japão tem encontrado obstáculos, como a presença de ativistas que a tentam impedir.
“A detenção de Erwin Vermeulen pretendia intimidar-nos para que abandonássemos Taiji”, povoado pesqueiro onde os golfinhos são encurralados para serem mortos em massa, denunciou Scott West, diretor de pesquisas da organização norte-americana Sea Shepherd Conservation Society (SSCS).
“Contudo, o efeito foi contrário, mais voluntários estão a inscrever-se para participar de nossas atividades contra a matança de golfinhos e baleias”, disse West.
Ao enviar voluntários estrangeiros como Vermeulen a Taiji, a SSCS gerou uma reação adversa no Japão, especialmente após publicar imagens da sangrenta caça de golfinhos. As matanças em Taiji foram expostas ao mundo em 2011, quando um filme sobre esse ritual anual, The Cove, ganhou o Oscar de melhor documentário.
Embora a libertação de Vermeulen, no dia 22 de fevereiro, tenha evidenciado que não era certo o crime do qual o acusavam, ter empurrado um policial no dia 16 de dezembro, os ativistas acreditam que isto não muda em nada as arraigadas atitudes quanto à caça de cetáceos neste país. “Vermeulen ganhou o caso porque não violou a lei. Isto não significa que os que se opõem à caça de baleias se tenham feito respeitar. A prova real é se podem impedir que em Taiji se mate baleias e golfinhos”, declarou o porta-voz do capítulo japonês da organização Greenpeace, Kazue Suzuki.
Apesar de também ser contra a casa de baleias, o Greenpeace distanciou-se do enfoque de confronto da SSCS e prefere centrar a sua campanha em questões como a contaminação da carne de baleia com mercúrio. Os meios de comunicação locais retratam a SSCS como uma organização agressiva, que utiliza raios laser e barulho para assediar as baleias.
Num editorial de janeiro do The Japan Times, jornal publicado em inglês, acusou a organização de “cruzar a linha dos protestos pacíficos e do controle razoável para uma confronto violento que pode prejudicar” integrantes dos dois lados. Mas a controvérsia parece estar se dirimindo a favor da SSCS. Em 21 de fevereiro, um tribunal federal da cidade norte-americana de Seattle negou uma ordem judicial solicitada pelo Instituto Japonês de Pesquisa de Cetáceos para impedir que a SSCS realizasse suas atividades contra a caça de baleias o Oceano Atlântico.
Países ocidentais como Estados Unidos e Austrália, que respeitam a moratória da Comissão Baleeira Internacional (CBI) à caça de cetáceos, querem que o Japão acabe com suas “experiências científicas”.
Embora, no contexto de uma decisão de 1987, a CBI permita matar anualmente mil baleias no Oceano Atlântico para fins de pesquisa, boa parte da carne desses animais acaba sendo vendida.
Por muitos anos, os conservacionistas acusaram o Japão de se aproveitar da cota autorizada pela CBI para continuar com a caça comercial, pondo em risco a existência destes mamíferos aquáticos. Este país também é acusado de gastar milhares de milhões de dólares para manter sua envelhecida frota baleeira, e de insistir em seu direito de caçar da maneira tradicional, como a Noruega, outra nação que incorre nesta prática.
As táticas da Sea Shepherd puseram em evidência o gasto público excessivo para apoiar uma indústria que rapidamente se torna obsoleta. A campanha da organização obrigou o Japão a cancelar, em março de 2011, suas capturas científicas no Oceano Atlântico. Em seu livro Como capturar golfinhos, publicado em 2010, Yusuke Sekiguchi, pesquisador do assunto, diz que a caça obedece a uma cultura na qual os animais são emboscados, mortos e comidos com gratidão à providência.
Naoko Koyama, do não governamental Instituto de Biodiversidade do Japão, com sede em Kyoto, destacou que o confronto pela matança traz reminiscências do choque entre as culturas japonesa e ocidental. “Como manifestantes, temos que evitar entrar nesse debate estreito”, afirmou. A organização de Koyama, que tem 15 membros, realiza uma campanha que busca divulgar os impactos negativos de confinar mamíferos selvagens aquáticos em aquários para fins comerciais. “Os resultados são animadores, as pessoas que nos ouvem decidem apoiar nossa organização”, comemorou.
Iwao Takayama, advogado defensor de Vermeulen, disse que “os ativistas estrangeiros falam em respeitar a lei, a base para ganhar um processo. Porém, para ganhar o respeito no Japão é preciso falar claro e preferencialmente em japonês”. Os promotores tentaram apresentar o caso contra Vermeulen como um problema entre a SSCS e o governo do Japão, acrescentou. “Foi óbvio que tentavam apelar para os sentimentos nacionalistas”, ressaltou o advogado.
Fonte: correio do brasil